miércoles, 25 de noviembre de 2015
Entrevista sobre triunfo electoral de Macri
ELEIÇÕES NA ARGENTINA
Candidato da oposição reverte desvantagem, vence o governista Daniel Scioli em inédito segundo turno e interrompe 12 anos de governo esquerdista. Novo presidente chega ao poder com a proposta de mudança
Macri decreta fim da era Kirchner
RODRIGO CRAVEIRO (Correio Braziliense, 23 de noviembre de 2015)
Em quase todas as letras de tango, traição e desilusão se misturam. O roteiro se repetiu no inédito segundo turno das eleições presidenciais da Argentina. Depois da conquista apertada do governista Daniel Scioli, em 25 de outubro, o eleitorado traiu os planos da presidente Cristina Kirchner, concedeu o triunfo ao opositor Mauricio Macri, frustrou os sonhos do candidato da coalizão Frente para la Victoria (FPV) e forçou uma guinada rumo à direita. Até as 23h de ontem (0h de hoje em Brasília), com 94,63% dos votos apurados, Macri aparecia com 51,86% (12.442.093 votos) contra 48,14% (11.549.745) para Scioli. No próximo dia 10, o opositor receberá a faixa presidencial das mãos de Cristina, selando o fim de 12 anos de kirchnerismo. De acordo com a Dirección Nacional Electoral, 80,9% (25,8 milhões) dos 32 milhões de eleitores registrados participaram do processo.
Por volta das 21h30 (22h30 em Brasília), então com 66,37% das urnas apuradas, Scioli reconheceu a derrota e agradeceu aos eleitores da FPV — a diferença entre os candidatos era de 6,9 pontos percentuais. "Os resultados já mostram uma tendência definitiva", admitiu. "A Argentina elegeu o novo presidente, engenheiro Mauricio Macri, a quem telefonei lhe desejando êxitos pelo futuro do país", acrescentou. Durante a ligação, o governista chamou o adversário de "justo ganhador". Quase uma hora e meia depois, o sucessor de Cristina Kirchner falou aos simpatizantes reunidos no quartel-general da coalizão Cambiemos e não conteve as lágrimas. "Que difícil, tanta emoção, tanta alegria, tanta esperança. Não sei como descrever o que estou sentindo. Estou aqui porque vocês decidiram assim", declarou. "Hoje é um dia histórico, uma mudança de época. E eu lhes disse, e vocês acreditaram, que vai ser maravilhoso."
Macri adotou um tom conciliatório em seu primeiro discurso como presidente eleito. Disse que a mudança precisa levar o país para o futuro e não pode se deter em revanches ou acertos de contas. "Temos que colocar toda a energia para construir a Argentina que desejamos. Temos que construir uma Argentina com pobreza cero. Temos que derrotar o narcotráfico e unir a todos os argentinos. E isso requer que não percamos nada de nossa vitalidade."
Maria Cecilia Míguez, cientista política e professora da Universidade de Buenos Aires e autora do livro Partidos políticos e política exterior argentina, explica ao Correio que a eleição de Macri representa a volta de uma direita atualizada, calcada em novas estratégias comunicacionais e heterodoxas. "Depois de 12 anos de certa recuperação da autonomia relativa do Estado, da afirmação de uma orientação latino-americanista, do multilateralismo das relações internacionais e da ampliação dos direitos das minorias, Macri simboliza a interrupção de um processo progressista em muitos sentidos", acredita.
Segundo a analista, o conservador chega para ocupar o sillón de Rivadavia, como é conhecida a cadeira presidencial da Casa Rosada, com legitimidade inconsistente, ante a pequena diferença de votos para Scioli — apesar de a aliança Cambiemos ter conseguido a prefeitura de Buenos Aires e o governo da província de mesmo nome. "Uma questão central é que Macri precisará lidar com uma grande oposição no parlamento, onde a FPV conta com maioria no Senado e com grande quantidade de deputados, e com um setor de oposição fortemente mobilizado", disse Míguez. Depois de 12 anos de um consistente discurso ideológico do kirchnerismo, ela prevê que Macri tentará apresentar suas propostas como apolíticas e instalar a "falácia" de inexistência de conflito no país. "Os indícios apontam que as grandes empresas e corporações terão lugar central na nova gestão, o que modifica a relação entre o governo e os setores econômicos. Haverá uma clara perda de autonomia relativa do Estado", acrescenta.
Leandro Morgenfeld, doutor em história e professor de história argentina pela Universidade de Buenos Aires, concorda que Macri terá dias difíceis pela frente. "Ele amargará a minoria em ambas as câmaras do Congresso; e a maioria das províncias nas mãos de outras forças políticas", lembrou ao Correio. De acordo com Morgenfeld, a escolha do novo presidente será negociar o respaldo de Sergio Massa, candidato opositor derrotado da coalizão Una Nueva Alternativa (UNA), e do restante do peronismo.
"O triunfo da Cambiemos, frente
da centro-direita, implica na derrota
do peronismo e da centro-esquerda.
Isso significa um giro à
direita e umalinhamento internacional
distinto do governo Kirchner.
Macri defende que aArgentina
se afaste daVenezuela e se
aproxime dosEUAe daEuropa.”
Leandro Morgenfeld
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