Argentina: vitória da oposição pode enfraquecer laços com o Brasil
Apesar de imbróglios comerciais, especialistas admitem que país de Cristina Kirchner deve manter ligação estratégica com o Brasil
As estatísticas evidenciam a crise no comércio bilateral entre as principais nações da América do Sul. Se em 2010 as exportações para a Argentina somavam 9,17% do total de produtos escoados pelo Brasil, no ano passado esse índice despencou para 6,34%. A desvalorização do real, a queda acentuada no Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro e as restrições cambiais na terra de Cristina levaram o fluxo de investimentos ao mais baixo patamar em cinco anos.
Por telefone, Leandro Morgenfeld, doutor em história e professor de história argentina pela Universidade de Buenos Aires, admitiu que as relações com o Brasil são estratégicas para Buenos Aires, que tem no vizinho o seu maior sócio comercial e o principal destino de suas exportações. “Apesar de todos os candidatos manifestarem a continuidade dos laços bilaterais, Scioli adota uma concepção de que o elo com o Brasil está ligado ao fortalecimento do Mercosul e tem por prioridade uma integração regional e sul-americana”, explica. “Massa e Macri, porém, sustentam que o seu objetivo é aumentar a aproximação com os países que formam a Aliança do Pacífico (bloco formado em 6 de junho de 2012), como Colombia, Peru, Chile e México, os quais seguem modelos econômicos mais abertos e neoliberais.”
Morgenfeld lembra que, no ano passado, Macri mostrou-se favorável às eleições de Aecio Neves (PSDB-MG), enquanto Scioli visitou recentemente a presidente Dilma Rousseff e obteve o aval de Luiz Inácio Lula da Silva em compromissos de campanha, em Buenos Aires. “Se Scioli ganhar as eleições, a relação bilateral deve manter as mesmas características dos últimos anos. Por sua vez, os assessores em política externa de Massa e de Macri defendem a retomada dos tradicionais vínculos com os Estados Unidos e com a Europa, além da aproximação com os países da Aliança do Pacífico. Eles entendem que o Acordo Transpacífico, assinado pelos EUA e por nações da região, é um bom modelo a seguir”, explica. Em contrapartida, os opositores querem o avanço das negociações entre a União Europeia e o Mercosul, algo rechaçado pela Casa Rosada.
Em 13 de outubro passado, Scioli esteve em Brasília, a fim de buscar o apoio de Dilma para uma vitória ainda no primeiro turno. O afilhado político de Cristina Kirchner enfatizou a necessidade de se imprimir todos os esforços necessários na integração comercial e na complementação entre os países. “A Argentina tem a predisposição de trabalhar com o Brasil para buscar novos mercados que potencializem nossas exportações em condições justas”, discursou. À margem do encontro no Planalto, Marco Aurélio Garcia, assessor especial da Presidência para Assuntos Internacionais, revelou que Dilma classificou a Argentina de “parceiro fundamental”. “É um eixo que nós temos que cultivar aqui na América do Sul, a Argentina e o Brasil”, declarou a presidente, na ocasião.
Conflitos
Scioli, Massa ou Macri, quem vencer as eleições terá que lidar com rusgas comerciais com o vizinho. Segundo Morgenfeld, a desvalorização do real fez com que a Argentina perdesse boa parte do superavit comercial, nos últimos dois anos. “Isso se explica pela queda das importações da China, mas também pela crise do Brasil. A redução do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro repercute por aqui”, admite o especialista argentino. Ele afirma que os setores que mais entraram em confronto com o comércio do Brasil foram aqueles responsáveis por abastecer o mercado interno na Argentina, principalmente a linha branca de eletrodomésticos. “Isso tem pressionado o governo Kirchner a estabelecer distintas cláusulas contra a exploração desse nicho pelo governo brasileiro.”
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